A Amazônia, com sua vasta rede de rios e importância ecológica global, está começando a explorar o potencial da eletrificação de seu transporte fluvial. Em 2022, foram projetadas as primeiras voadeiras elétricas da região, com a viagem inaugural ocorrendo em maio de 2024 no rio Xingu, em Altamira, no sudoeste do Pará. Financiado pela Norte Energia e executado por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Naval da Universidade Federal do Pará (UFPA), os protótipos Poraquê I e II visam substituir combustíveis fósseis por energia limpa, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e promovendo um transporte mais sustentável.
Desafios e Avanços
O coordenador do projeto, professor Emannuel Loureiro, relata que a construção das voadeiras elétricas enfrentou diversos desafios técnicos, desde a inovação do projeto até a adaptação às peculiaridades da região amazônica. A falta de fornecedores nacionais de equipamentos elétricos para embarcações e a necessidade de adaptação às grandes distâncias e correntezas dos rios foram alguns dos obstáculos superados.
A viagem inaugural no rio Xingu demonstrou a eficiência e a confiabilidade dos sistemas elétricos, confirmando os parâmetros iniciais de autonomia, alcance e velocidade das embarcações. Este sucesso marca um passo importante rumo à implementação de transporte fluvial sustentável na região.
Próximos Passos e Potencial Futuro
Os próximos passos incluem testes com baterias de fornecedores nacionais em voadeiras maiores e o desenvolvimento de motores elétricos nacionais. O professor Loureiro enxerga um futuro promissor com a criação de um mercado local de montadoras de equipamentos para propulsão elétrica, o que poderia abrir caminho para um cenário tecnológico avançado e sustentável na Amazônia.
Além dos benefícios ambientais, como a ausência de emissão de CO2 e a possibilidade de recarga com fontes fotovoltaicas, as voadeiras elétricas são mais baratas de operar e manter, oferecendo uma experiência de transporte mais silenciosa e confortável. A recarga com painéis solares em regiões distantes pode garantir acesso ao transporte de forma mais barata e sustentável para as populações ribeirinhas.
Desafios para a Implementação em Larga Escala
A implementação em larga escala enfrenta obstáculos significativos, como a falta de fornecedores nacionais de componentes elétricos e a necessidade de investimentos em infraestrutura de carregamento e tecnologia. Desenvolver uma infraestrutura de carregamento adequada e mudar paradigmas relacionados à mobilidade elétrica na região são desafios cruciais a serem superados.
Zbigniew Kozak, CEO de uma empresa privada que fabrica barcos elétricos em Manaus, concorda com as observações do professor Loureiro. Kozak destaca que o uso de energia renovável pode reduzir os custos operacionais em até 90% em comparação com combustíveis fósseis. Atualmente, os ribeirinhos gastam metade de sua renda com combustível, e a energia solar pode diminuir significativamente a poluição do ar e os problemas de saúde associados às emissões dos motores tradicionais.
Expansão e Inovação
A empresa de Kozak está desenvolvendo uma rabeta elétrica e planeja expandir seus serviços até Belém, lançando um barco solar para transporte de passageiros em Manaus. A expectativa é que essa inovação contribua para o ecossistema de startups e negócios sustentáveis na região, promovendo um futuro mais verde e tecnológico para a Amazônia.
Estas iniciativas demonstram o potencial transformador das voadeiras elétricas na Amazônia, oferecendo um modelo de transporte sustentável que pode servir de exemplo para outras regiões do mundo.
Fonte: O Liberal